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Educação: Condição social determina insucesso escolar

Alexandre Barahona, texto

As preocupações dos pais, mantêm-se de ano para ano, quando falamos de Educação. E os balanços anuais parecem ser sempre dúbios. Terminado este último atípico ano letivo, os resultados são desanimadores, sobretudo quando nos referimos à relação entre o desempenho escolar e o nível socioeconómico mais baixo dos alunos.

Existe uma evidente relação entre a escolaridade e a desigualdade social. Essa relação é evidenciada, por exemplo, pelos indicadores estatísticos de pobreza. A Sociologia da Educação vem avisando há muito para a associação entre a origem social, o desempenho escolar e as respetivas consequências nas futuras oportunidades de vida.

A recente moda é a de observar os rankings de sucesso escolar, procurando enaltecer uns, em prol de outros. Raramente, contudo, ouvimos falar dosque mais dificuldade têm em estudar, em progredir nos seus estudos e melhorar a sua vida. É uma franja da sociedade que nos deve preocupar, pois estes jovens serão também eles os adultos de amanhã, e desse modo, constituem igualmente o sustento das nossas estruturas laborais e sociais. Um jovem sem estrutura social e escolar sólidas, dificilmente conseguirá transformar-se em um adulto que seja feliz, sabendo viver e apoiar a sua sociedade.

Bravo Nico, professor da Universidade de Évora que tem dedicado boa parte da sua carreira a esta problemática do ensino escolar, estima que “a evolução do ensino tem sido muito positiva em todo o país, não só em termos de aproveitamento, como evitando o abandono escolar”.

Contudo, os índices ainda estão longe dos da União Europeia. O antigo deputado reconhece que “apesar de todo o percurso conseguido, temos de ir mais longe e mais depressa nesta matéria. A envolvência e correlação de várias entidades nas dinâmicas escolares locais, como recentemente está a ser feito, é essencial para esse avanço, nomeadamente dos municípios. O Alentejo tem características próprias, como as grandes distâncias entre localidades e a precariedade dos professores. Temos de andar mais rápido para nos aproximar da Europa”.

A precariedade de professores, de médicos e outras profissões essenciais ao nível de vida de uma comunidade, de uma localidade, surge como fator repetitivo, que vai protelando o desenvolvimento do Alentejo.

Segundo este estudo da Fundação Belmiro de Azevedo, e analisando os indicadores do desempenho escolar médio, dos alunos com um nível socioeconómico baixo, tendo a título de exemplo, as duas disciplinas nucleares que são o português e a matemática, apenas dos 4.º e 9.º anos de escolaridade, podemos sublinhar que esses resultados são bem mais deficientes na zona sul de Portugal, que na zona centro e norte.

Referindo ao Alentejo, a disciplina de Matemática no 4.º ano de escolaridade, os índices variam numa escala dos 39,2 aos 87 pontos percentuais, deixando Beja com uns “magros” 46,2 e Évora com 64,2, quando é Estremoz que se aproxima mais dos melhores resultados, com 65.6.

No entanto um pouco mais à frente, e com a mesma disciplina, mas do 9.º ano, ressalta desde logo que o índice mais baixo de todo o território nacional é no Alentejo, registando-se no concelho de Fronteira (Portalegre) uns parcos 8,10 pontos percentuais.

Este mínimo nacional pouco emerge quando for comparado com outros concelhos alentejanos, como Beja, que não vai além de 23,3, ou Évora que fica em 27,4 e ainda Estremoz nos 24,1, contrastando com a média de 64,8 em Portugal continental. Ficamos assim medianamente em todo o Alentejo, numa zona “abaixo da linha de água”, abaixo da metade da média nacional.

“O insucesso de um aluno é o insucesso da escola, mas também é da família e do município”. Quem o afirma é José Verdasca, coordenador da estrutura de missão nomeada pelo Governo para acompanhar o Programa Nacional de Promoção do Sucesso Escolar.

Por outro lado, a língua portuguesa também constitui por vezes um obstáculo ao sucesso escolar, em particular devido à insistência da gramática, no seu plano de ensino. E é bem verdade, que a gramática da língua portuguesa é considerada uma das mais difíceis que existem, por ser repleta de regras e, também, de exceções a essas mesmas regras. Uma gramática complicada como a portuguesa, com muitos verbos irregulares, muitos tempos verbais, muitas expressões idiomáticas, por exemplo, levam esta disciplina basilar no nosso ensino, para um campo que pode facilmente ser sentido como teórico ou conceptual. Resultando em idêntico fator de resistência, à sua aprendizagem por parte dos alunos.

Analisando esta disciplina de português, segundo os recentes dados e numa relação de 53 pontos de mínima, a 88 de máxima, o concelho de Beja é dos mais baixos do Alentejo com 46,2, com Évora (64,2) e Estremoz (65,6) a obterem melhores índices no que respeita ao 4o ano de escolaridade.

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