Francisco Alvarenga, texto
Festa alta do calendário cristão, a Páscoa assinala-se com diversas cerimónias litúrgicas, mas também romarias onde se cruzam o sagrado e o profano.
Nas diversas cerimónias religiosas destaque para a vigília pascal que se iniciará às 21h30 de sábado, na escadaria da Catedral de Évora, com a bênção do lume novo. As cerimónias serão presididas pelo Arcebispo de Évora. Numa mensagem à diocese, D. Francisco José Senra Coelho apelou a que “os nossos exercícios espirituais tradicionais da Quaresma, tenham sempre presente o dom da paz para a Humanidade”, bem como “as intenções de comunhão com todas as vítimas das diversas violências, incluindo violência sexual, doméstica e perseguição religiosa”.
Em Portalegre, cuja Sé foi recentemente reaberta depois de restauro, destaque para as cerimónias religiosas de amanhã, dia 7, com início pelas 15h00 e que terminam com a Procissão do Enterro do Senhor. O bispo, D. Antonino Dias, anunciou que os donativos das comunidades católicas neste período vão reforçar o fundo de apoio social gerido pela Cáritas.
Já em Beja, em cuja Sé decorrerão diversas cerimónias, sendo pontos altos a vigília pascal, no sábado, e a eucaristia de Domingo de Páscoa, a renúncia quaresmal destina-se a apoiar os católicos na Ucrânia e a realização da Jornada Mundial de Juventude.
“Quaresma e a Páscoa, toda a vida cristã, são para ser vividas sinodalmente. São uma caminhada para ser percorrida em conjunto com os irmãos. Ninguém se salva sozinho. O papa Francisco tem repetido este slogan vezes sem conta. Há muitas pessoas na nossa diocese afastadas da Igreja que precisam de ouvir este convite da boca dos cristãos, da vossa boca, este convite que as salva da solidão”, apelou D. João Marcos, na sua tradicional mensagem à diocese.
ROMARIA EM SOUSEL
Sousel revive, pela Páscoa, uma das suas tradições populares mais antigas. A romaria em honra de Nossa Senhora do Carmo é secular e realiza-se na segunda-feira de Páscoa. De véspera é preparado o cabrito assado, o ensopado de borrego, as “costas” e o pão, que antigamente eram feitos em forno de lenha. Depois, na segunda-feira, centenas de pessoas, entre os que ali residem e os filhos “da terra” que, por esta ocasião, retornam ao concelho, rumam à Serra de São Miguel em busca de uma sombra das oliveiras que a povoam, para estenderem as suas toalhas e fazerem o piquenique. A Arquidiocese de Évora lembra que, durante a Páscoa, a imagem de Nossa Senhora do Carmo é levada para a capela, no alto daquela Serra, e que apenas está aberta por esta ocasião. O momento alto da romaria acontece às 12h00 de segunda-feira: trata-se da missa campal, seguida de procissão. Finalizadas as cerimónias religiosas, começam os momentos de reencontro e celebração. Pelas 17h00 inicia-se a também tradicional corrida de toiros, na Praça Pedro Louceiro, edificada nas imediações da capela e considerada uma das mais antigas da Península Ibérica. Em praça estarão Ana Batista, Joaquim Brito Paes e Diogo Oliveira, além dos Forcados Amadores de Coruche, Arronches e Monforte.
SEGUNDA-FEIRA NO CAMPO
Além de Sousel, as romarias de segunda-feira de Páscoa são uma tradição secular em vários concelhos alentejanos, tendo em comum as cerimónias religiosas, o reencontro de famílias e amigos e as idas ao campo, num ritual onde se cruzam o sagrado e o profano. Por esta altura, a vila de Campo Maior fica praticamente deserta porque a maioria da população se muda literalmente para as margens do rio Xévora, junto do Santuário de Nossa Senhora da Enxara. Romarias idênticas ocorrem nas margens do Guadiana (Elvas) ou junto à ermida de São Pedro dos Olivais (Mourão), onde os romeiros chegam em procissão, com carros alegóricos e a banda filarmónica. Uma semana depois, na segunda-feira de Pascoela, centenas de pessoas rumam ao Santuário da Boa Nova, em Terena, numa iniciativa cujas origem remontam ao século XIII.
