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Alterações climáticas ameaçam futuro das azinheiras

Luís Godinho (texto) e Gonçalo Figueiredo (fotografia)

As alterações climáticas vão ter um impacto significativo na paisagem alentejana, tal como a conhecemos, ameaçando os sobreiros, mas muito especialmente as azinheiras.

A azinheira irá sofrer “um aumento significativo da sua vulnerabilidade” em consequência das alterações climáticas, designadamente do aumento da temperatura, de ondas de calor mais frequentes e prolongadas e da diminuição da precipitação. O alerta é deixado na Estratégia Regional de Adaptação às Alterações Climáticas, encomendada pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Alentejo a um consórcio liderado pela Sociedade Portuguesa de Inovação (SPI).

Segundo o documento, a perspetiva é que as alterações climáticas conduzam a uma “sustentabilidade reduzida” dos povoamentos de azinheira “face a um cenário climático mais severo”, podendo a espécie “desaparecer em várias áreas de montado, levando à sua substituição por formações vegetais de matagais mediterrânicos”.

Os impactos “mais severos” sobre as azinheiras irão ocorrer precisamente nas áreas atualmente ocupadas pelo montado, “conjeturando-se um aumento da dificuldade da regeneração” dos povoamentos de azinheira. Isto porque a frutificação das árvores “será afetada pelo aumento de temperatura e diminuição da precipitação, o que diminuirá o tamanho das bolotas e a sua produção total”.

Os especialistas antecipam uma situação “bastante preocupante” e defendem a adoção de “medidas urgentes” que promovam a sustentabilidade da espécie e a sua adaptação às alterações climáticas. Uma das medidas propostas é a definição de áreas protegidas para “promover a conservação do montado na sua forma natural, implicando evitar a conversão dessas áreas em monoculturas ou em outros usos que possam comprometer a integridade dos ecossistemas”.

“Ademais”, prossegue o documento, “a promoção da sustentabilidade do montado envolve a implementação de práticas de gestão específicas, o que inclui a adoção de técnicas de pastoreio e gestão florestal adequadas, garantindo a integridade do solo, a renovação natural das espécies arbóreas e a diversidade da vegetação”.

Embora lembrando que uma das “principais características” do montado alentejano “é a sua capacidade de adaptação às condições climáticas áridas e a capacidade de suporte de longos períodos de seca”, os especialistas advertem que as alterações climáticas já se encontram a produzir “impactos significativos” nos sobreiros e azinheiras, “sendo expectável” o agravamento dos problemas, em virtude de uma “diminuição significativa” da capacidade de retenção de água no solo.

No caso dos sobreiros, a perspetiva é que o crescimento das árvores seja mais lento e que se verifique um “menor crescimento do lenho e da cortiça”, além de um “aumento da dificuldade na regeneração de povoamentos de sobreiro, bem como um maior stress ambiental, conduzindo a uma preocupante possibilidade de mortalidade acentuada em regiões quentes e secas” do interior alentejano.

VALORIZAR A CORTIÇA

A Estratégia Regional de Adaptação às Alterações Climáticas defende que a “valorização” dos subprodutos do montado, em particular a cortiça, é “crucial” para a sua sustentabilidade. “A cortiça é um material versátil, sendo utilizada em uma variedade de setores, desde a indústria de vinhos até à construção e design”, refere o documento, considerando que “estimular o uso e a procura por produtos de cortiça contribui para a valorização do montado e para a criação de benefícios económicos para as comunidades locais”. Dados do Instituto Mediterrâneo para a Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento (MED) indicam que o declínio do montado é de cerca cinco mil hectares por ano.

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