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Ambiente: Doenças virais ameaçam espécies cinegéticas

Luís Godinho (texto)

Doenças virais estão a dizimar as populações de lebres, enquanto a febre hemorrágica continua a matar grandes quantidades de coelhos. As duas espécies enfrentam um “elevado risco de extinção” na natureza.

Os caçadores dizem há muito o que a ciência veio agora confirmar. De acordo com o “Livro Vermelho dos Mamíferos de Portugal”, coelhos e lebres passaram a ser consideradas espécies “vulneráveis”, enfrentando “um elevado risco de extinção na natureza”. Acima desta só há duas categorias antes de um animal ser considerado extinto: “em perigo” e “criticamente em perigo”.

Projeto da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), o estudo envolveu dezenas de cientistas e ambientalistas de todo o país, incluindo da Universidade de Évora, e aponta para um “declínio entre 50 e 69%” na população de lebre-ibérica ao longo dos últimos 10 anos.

As principais ameaças à sobrevivência da espécie “são as doenças virais, nomeadamente a mixomatose, e a perda de habitat pela transformação da paisagem devido à intensificação agrícola”. Também o aumento exponencial de javalis veio “impactar negativamente” as populações de lebre pois fez “disparar” a “predação de juvenis”, verificando-se ainda uma “caça excessiva”, sobretudo em áreas onde se registou uma diminuição do número de coelhos.

De acordo com os especialistas, os principais esforços de conservação “deverão concentrar-se no combate à mixomatose e na promoção de paisagens em mosaico com pastagens, terrenos agrícolas, matos abertos e florestas, evitando grandes extensões de monoculturas”.

A situação do coelho-bravo é ainda mais preocupante, tendo-se registado uma redução do número de exemplares entre 60 e 79%. A situação só não é mais grave, refere o estudo, porque “se os fatores de declínio forem limitados, a população reprodutora deverá ser capaz” de reduzir o risco de extinção.

Trata-se de “uma das espécies de mamíferos com maior declínio populacional” na última década, fortemente ameaçada por doenças virais, “particularmente a nova variante da febre hemorrágica”, mas também pela degradação e destruição do habitat resultante da intensificação da atividade agrícola. Por outro lado, “o desequilíbrio das comunidades de predadores, a caça excessiva e os atropelamentos podem também contribuir para o seu declínio”.

Por isso, os cientistas recomendam a adoção de um plano para recuperação da espécie, com os “principais esforços” direcionados para “minimizar o impacto das doenças que são o fator preponderante no seu declínio”, admitindo também a necessidade, em algumas zonas, de “equacionar restrições à exploração cinegética através da redução do número de animais abatidos e/ou ajuste do período de caça”.

FURÕES, LINCES E GATOS AMEAÇADOS

Com um nível de perigo mais elevado do que o das lebres e dos coelhos apresentam-se espécies como o toirão (ou furão-bravo), o lince-ibérico ou o gato-bravo. No caso dos linces, o estudo assinala a “unificação de esforços” entre Portugal e Espanha para a conservação da espécie, com a reintrodução bem-sucedida na natureza de vários animais criados em cativeiro, o que permite evidenciar uma tendência de “expansão” de uma espécie que ainda é considerada “em perigo”. A espécie encontra-se distribuída geograficamente pelo Vale do Guadiana, em dois núcleo separados, “sem ocorrência de dispersão ou migração efetiva”.

Um dos riscos para a sua sobrevivência poderá ser a falta de alimento. Como o coelho-bravo constitui mais de 80% da dieta dos linces, o “declínio drástico das suas populações poderá ter efeito direto na reprodução da espécie e impacto negativo na estabilidade das populações de lince”.

A mortalidade por atropelamento e o abate ilegal através da utilização de armadilhas ou de veneno encontram-se entre as principais causas para o “declínio” do gato-bravo, descrito como “solitário” e com capacidade de dispersão por dezenas de quilómetros, e de que existirá menos de uma centena de exemplares. Para esta espécie é proposta a implementação de planos de recuperação e o “controlo da proliferação de gatos domésticos” em áreas onde seja detetada a sua presença para evitar “a transmissão de patologias”.

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